sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Conversas de Sábado.

Olá!

Na semana passada foi instalada a feira de livros na Praça Serzedelo Correia, em Copacabana. Atualmente, por restrições dos órgãos municipais e pelo desenho da praça, houve uma enorme redução dos expositores/barraqueiros.

Hoje, há um número bem menor de participantes, assim como, a diminuição do horário de funcionamento. Observa-se uma forte predominancia de livros usados e saldos. As barracas ganharam uma nova roupagem, um novo visual, mas a falta total de divulgação permanece. O aluguel (taxa) do espaço para montagem/transporte das barracas, é recolhido pela ABL, de seus associados e costuma ser bem elevado, envolve pagamento da iluminação, segurança, e outras coisas que não me recordo.

Quem controla a ABL - Associação Brasileira do Livro, que promove as feiras do livro nas praças da cidade do Rio de Janeiro, segundo fui informado, atualmente, é um livreiro, dono de um sebo. Desde do surgimento da feira, a secretaria executiva da entidade mantinha o controle total e foi presidida durante muitos anos , por um livreiro de nome Santana, o mesmo da razão social da livraria, um antigo sebo no centro da cidade. Nunca a oposição formada por livreiros conseguiu alterar a situação que permaneceu até, o falecimento do secretário executivo. Houve casos em que ele expulsava o livreiro por discordar dele. Lembro que o Chico da livraria Dazibao-Ipanema, foi um deles.

Serzedelo Correia, é uma praça protegida por grades, como a maioria das praças e prédios de nossa cidade. O seu interior, é utilizado por crianças para brincar e idosos que costumam jogar damas e outros jogos em um espaço reservado para eles. Por outro lado, a praça é povoada por pivetes ( meninos e meninas) que passam grande parte do dia, cheirando cola e praticando os chamados atos infracionais. A convivência é democrática, desde de mendigos de várias espécies, a bêbados e loucos. Tão democrático e sem policiamento que não devemos esquecer da forte presença de larápios que atuam livremente em direção aos pertences daqueles que transitam pelo local. O alvo preferido, são idosos e mulheres.

De vez em quando, aparece um grupo de ciganas dispostas a abordar um público incauto, predominante feminino, ávido em saber através da leitura das mãos o “incógnito” destino, para os apaixonados e os querem melhorar de vida, são clientes certos deste grupo.

Até pouco tempo, um espaço da praça era dividido por um posto de saúde, que para a construção do metrô foi transferido para lá. Ficou por pouco tempo. Recentemente foi demolido e voltou para o lugar de origem, perto da Estação Siqueira Campos do metrô.

A Praça Serzedelo Correia, concentra um grande número de menores de rua e pedintes. Faz parte do cenário da praça, um razoável número de moradores/famílias sem teto, há sempre alguém dormindo e fazendo do solo, seu banheiro, sua morada e cama.

Antigamente, a praça era conhecida como a “Praça dos Paraíbas”, pela predominante presença de forte contingente oriundos do norte e nordeste do país. A trilha sonora predominante era o forró. Há em volta da praça, a Igreja Nossa Senhora de Copacabana, outros templos religiosos, consultórios, residências, e um comércio bem diversificado, um deles, comercializa produtos eróticos e foi enfocado pelas singulares lentes do blogueiro e artista plástico Jôka P, criador do Avenida Copacabana, um dos mais interessantes e badalados blogues que circulam pela blogosfera. Vale a pena fazer uma visita. Seu blog gerou recentemente uma matéria no jornal O Globo.

Como estava andando pela praça, resolvi por curiosidade parar em uma barraca de livros usados, tenho dado preferência por este tipo de livro. Ao acaso, peguei o livro de autoria de Umberto Eco, o Pêndulo de Foucault (1988) publicado pela Record. O livro estava em um estado razoavel, o valor registrado era de 25 reais, comecei a folhear, eis que surge a presença do vendedor, querendo vender e dizendo que poderia dar um desconto de 20%. Fiquei embasbacado com a proposta e com a conotação de que ele poderia me conceder o desconto. Respondi que era uma obrigação dele, em dar o desconto. Ele me respondeu que depende. Não é bem assim, continuou. Informei a ele, que trabalhei por mais de vinte anos no mercado editorial, sei que por estar em exposição na feira do livro, era obrigado a dar o desconto. Não era a seu bel prazer que eu estaria ganhando o desconto. Ficou calado. A barraca pertence a uma familia que detém mais barracas na feira e donos de um tradicional sebo no centro da cidade. A malandragem da situação, as barracas não estão expondo mais a faixa que declarava o gozo do desconto de 20%, omitem o que é amparado por lei municipal. Dalí fui em busca de algum conhecido do meu tempo de livreiro, encontrei - a resposta foi confirmada, sumiram com a placa indicativa de desconto. No entanto, vigora o desconto pela cara do freguês, ou pela necessidade de faturar se a venda tiver muito baixa. Como o consumidor é enganado, como a feira é usada muito mais para queima de saldos com diferentes preços, “esquecem” de avisar sobre o desconto. O argumento é que há muito livro em promoção com baixo valor. No meu tempo de livreiro, distribuidor e editor, todos os livros expostos eram apontados com dois preços, um com o valor do preço de capa e em seguida, o valor a ser pago com desconto de 20%. O mundo é dos espertos, fiquei convencido. O livro novo é tabelado pela editora; o usado, é marcado pelo livreiro, às vezes um mesmo livro, possui diferentes preços em outra livraria.

( originalmente publicado em Sábado, Julho 01, 2006 no blog do Wilton Chaves em http://quitandadochaves.blogspot.com/2006/07/conversas-de-sbado.html )

2006-11-07 15:25:44

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