quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

FESTIVAL DO RIO E ACHADOS E PERDIDOS EM COPACABANA

Cadu tentou ir a uma sessão de um filme no Festival do Rio. Indignado pela desorganização do evento resolve escrever para um jornal. Foi mais ou menos assim sua carta:


"Ainda debruçado sobre o jornal de sexta feira passada e a Veja desta semana vejo uma farta gama de notícias muito farta, escândalos e fatos em quase todos os segmentos, normal até aí se não fosse com a gente. Furacões, Severino, Genoíno, Dólares da Polícia Federal, Festival do Rio, novela chata das oito, Mensalão e a mais recente agora, da manipulação dos jogos de futebol. Nem vou tentar comentar sobre o Edilson Pereira é o Caralho. Engraçado que há anos se comentam nas rodas de bar e nas melhores colunas esportivas os abusos que acontecem em campo. Dá o que pensar, principalmente se percebemos ser isto apenas o início de um esquema que pode envolver de árbitros até jogadores, técnicos, presidentes de clubes e tudo mais.
E depois dizem que futebol é uma paixão nacional. Eu pensava que fosse bunda a unanimidade, mas na verdade brasileiro mesmo gosta é de dinheiro, isso sim.
Os próximos dias irão nos mostrar os culpados e vítimas deste ardil sem precedentes, um atentado ao pouco que restava da nossa dignidade, porque a alma do brasileiro já está tão tripudiada que só mesmo no futebol para ter alguma alegria. Agora nem isso.
Vivemos um momento muito importante da nossa história. A esquerda, agora no poder, é devastada por CPI´s, esquemas de compra de deputado, gastos do dinheiro público e demais escândalos que fazem Collor e a casa da Dinda peixe pequeno perto de tamanho bacalhau podre sem cabeça que se tornou o Planalto Central.
E depois dessa volta toda com o que mil diabos este humilde consumidor tem para dizer? Festival do Rio.
Sábado à noite, como todo bom carioca deixo para última hora comprar ingresso para o cinema. Bem que havia pensado em comprar antecipado, mas as filas durante a semana, a falta de tempo e a taxa do Ingresso.com acabaram me fazendo arriscar, afinal nem era um filme muito falado nos jornais. ACHADOS E PERDIDOS, de José Joffily. Estrelado por Antonio Fagundes, Zezé Polessa, Juliana Knust, Babu Santana. O roteiro é de Paulo Halm, com quem tive o prazer de trocar alguns emails a alguns anos atrás numa lista de roteiristas em que havia me inscrito. Pesou para mim muito mais a história deste filme, pois se tratava de um livro que havia lido, do Luis Alfredo Garcia Roza. Aliás, li todos os livros deste autor, confesso que me identifiquei com o delegado Espinosa, herói da série, mas que não sei ao certo, nem aparece na trama filmada por Joffily.
Chegando com cerca de quarenta minutos antes da sessão começar reparo que estranhamente a bilheteiria estava vazia, não havia filas nem nada, apesar do burburinho, câmeras e gente por todo lado nas proximidades do Odeon.
Na bilheteiria fico sabendo que a sessão era só para convidados, e que a sessão aberta ao público seria só na terça feira, ao meio dia. Perguntei o porquê de não ter tido nenhum comunicado a respeito disso não souberam me informar. Então porque anunciaram a sessão, antes nem tivessem divulgado esse horário. Não iria eu bater com a cara na porta da bilheteiria à toa, em pleno sábado à noite.
Pior foi saber que poderia ocorrer com outros filmes do festival. A semana inteira acompanhei todas as notícias nos principais jornais e não vi nada parecido. Ou seja, você corre o risco de tentar assistir algum filme e não conseguir, porque a sessão é fechada a convidados, artistas e celebridades em geral.
Resignado e quase quebrando o Odeon todo a joelhadas pego meu rumo de volta a Copacabana, o mesmo bairro onde Espinosa, o delegado da série do Garcia Roza morava e trabalhava. Ligo para uma amiga e desfaço o programa. Tenta me convencer a ver outra coisa, mas desisto. Seria um absurdo procurar algo que eu possa assistir. Sim, PORQUE OS ARTISTAS TÊM UMA SESSÃO DO FILME NO SÁBADO À NOITE, ENQUANTO O PÚBLICO SÓ NA HORA DO ALMOÇO, NO MEIO DA SEMANA. Como se ninguém trabalhasse nessa vida, tivesse seus afazeres ou se alimentasse por volta desse horário. Acredito que só vagabundo ou quem realmente tem a sorte de poder estar disponível numa terça feira ao meio dia irá assistir este filme.
Para quem tenha ficado tão chateado como eu fiquei aconselho ir a sua livraria mais próxima, não desistir de ler a obra deste grande autor. São histórias que remontam o cotidiano do carioca, com um clima policial, muito bem escrito sem deixar de pontuar lugares excelentes deste bairro que já fora tão nobre, Copacabana.
Já o filme, bem, se amanhã você estiver de bobeira é no Odeon, meio dia, eu disse, a sessão aberta ao público deste filme - isso se de repente a direção do Festival do Rio não mudar o horário, cancelar a sessão ou mudar o filme. Dá até para pensar, será que não é para ver mesmo o filme, só porque não tem o Espinosa? Não é para prestigiar o cinema nacional? Cultura é mesmo um capricho, só disponível para as elites ou para a classe "artística"? Vou só fazer uma única pergunta: por que não se faz uma sessão assim, metade convidados e a outra metade público, gente comum, pessoas que gostam de cinema ou simplesmente se interessariam em ver uma obra de que leu na telona? Tem que sentar no sofá de qual diretor de cinema para ser convidado? Tem que ser ator, figurante, alguma coisa parecida ou só de ser amigo de alguém no Festival do Rio eu conseguiria ingresso?
Ainda olhei para trás, procurando alguém conhecido na multidão. Engraçado, antes disso tudo vi uma moça tropeçar no tapete vermelho da entrada do Odeon. Não ri, ela poderia realmente se machucado e não foi nada engraçado. Também isto tudo aqui relatado não é lá nenhum drama, pensei muito e cheguei a cogitar a possibilidade de BOICOTAR O FESTIVAL DO RIO, espalhando não só o conteúdo desta carta aos jornais como também em blogs, fotologs, orkuts e tudo quanto é mídia possível de me manifestar. Achei melhor não fazer nada, apenas divulgar entre os amigos e no meu blog pessoal todo o descontentamento. Contudo, meus amigos acabaram me convencendo do contrário, que tinha mesmo de botar a boca no trombone. Não vou tentar assistir mais nenhum filme do festival no entanto, mas por outros motivos, tempo e dinheiro, porque ou vou estar trabalhando quando estiver passando os filmes que pretendia assistir ou não vou ter dinheiro para ver tudo que achar interessante nesta edição.
Não desista, vá ao Festival do Rio, prestigie o cinema nacional, conheça o panorama mundial, dê uma chance para um filme qualquer sem nem ler a sinopse. Espero que você tenha mais sorte que eu, porque a minha chance eu já passei, não quero nem um pouco dar com a cara de novo na porta do cinema porque alguém esqueceu de dar o recado antes.

CARLOS EDUARDO A. S."

2006-07-25 14:37:46

Nenhum comentário:

Postar um comentário