sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Maçãs nunca foram só vermelhas

Se o olfato de Jean-Baptiste teve origem na fétida vizinhança em que nasceu o meu se formou no colo da mais cheirosa mulher: fosse dia ou fosse noite, dia normal ou dia de festa, de pijama ou de saída. Ainda vou encontrar, nas minhas viagens, o perfume Fracas que me despertou as narinas.

Os cadernos (e livros) eram encapados com papéis de presente e contact (aplicado perfeito e sem bolhas), arrumar a mochila para a escola tinha clima de Natal, manusear meu material escolar fazia com que me sentisse especial e única (tudo tinha uma cara gostosa e escolhida).

Meus cabelos eram penteados e amarrados com continhas coloridas em várias tranças, meus colares eram feitos de conchas catadas naqueles verões em Copacabana, tive biquinis feitos a mão, tênis pintados como aquarelas, calças com apliques de tecidos hippies e claro, não me lembro de um jeans que não fosse desfiado. Ter uma moda nossa era normal.

Festas eram normais, gente de todos os tipos e estilos era normal, cabeleleiros e maquiadores desbaratados, normal, ler Interview, normal, folhear Architectural Digest, normal, saber a diferença entre fúcsia e bordeaux, normal, saber como cheira a copaíba, normal. Em qualquer idade, que fique explícito, normal.

Bem que avisam que em algum momento o que ensinam faz sentido, a gente não acredita até que se percebe ou se enxerga (o que vier primeiro). Já me percebo. Mas ainda quero me ver pintada como meus tênis e contar estórias como as que aprendi com minha mãe.

Originalmente postado por Cristiana Rodrigues em
OutlanderCris


2008-03-28 10:40:08

Nenhum comentário:

Postar um comentário