sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Elevador dos fundos

Sentiu o cheiro de lavanda suave, feminina, assim que abriu a porta da frente. Veio naquela lufada de ar que dá sempre quando entrava no hallzinho do elevador. Nossa, no elevador então...

Quem seria essa vizinha, porque com esse cheirinho delícia só podia ser vizinha e gostosa! E foi pro trabalho tomado por devaneios eróticos onde, entre outra situações, rolava aqueles amassos no elevador! Tipo "Dama do Lotação" saca? Deve ter no Youtube!

Na volta prá casa, já tinha esquecido da estória, sido absorvido pela rotina intensa do seu dia a dia de arquivista, sempre às voltas com caixas e números, e eram tantas caixas e tantos números que nem palpite pro jogo do bicho rolava mais. A fase de sonhar com aqueles corredores com caixas do chão até quase o teto já havia passado. Agora ele tomava um remedinho e dormia feito um neném!

E no outro dia ao abrir a porta veio o cheiro novamente, que delícia meu Deus! Quem seria essa criatura, tem que ser a maior gata, pensou ele ao apertar o botão do térreo. Se ele morava no sexto andar e eram só dois apartamentos por andar, naquele bloco, então restavam apenas mais oito apartamentos, oito chances de encontrar a musa!

- Seu Carlinhos, mudou gente nova prá aí?
- Mudou não senhor.

Mas algo tinha aparecido diferente, porra! Esse cheiro enebriava, deixava ele doido!

Ao final de uma semana disso resolveu se antecipar. Era um dia de sol forte naquela sexta-feira. Ele acordou por volta das seis horas, correu com sua rotina e abriu a porta de casa, hummm, ela ainda não havia passado, nada do perfume de lavanda suave... ficou de plantão... mas pouco tempo! Ouviu a porta do elevador batendo, um tchau abafado. O plano parecia ter dado certo já que na medida em que o elevador descia o cheirinho vinha junto! Era agora! Tocou o botão de descida do sexto andar, o elevador passou pelo oitavo, pelo sétimo e deu aquela meia freada que eles dão antes de parar no andar, ele não se aguentava, a porta pantográfica do elevador do edifício tombado do Lido foi se abrindo... ele abriu a porta e se deparou com aquela criatura, doce, suave e com quase 90 anos de idade.

O choque deve ter sido grande porque Dona Eulália olhou assustada e perguntou:

- Meu filho tá tudo bem?

Depois de um tempo calado, entrou no elevador tentou balbuciar palavras mas não dava.

Dona Eulália era a viúva do Doutor Silva, morava no 902 e ia para a aula de educação física prá terceira idade na praia, perfumadissima encontrar as amigas e o namorado um velhinho ex-combatente pelo visto ainda na ativa.

Nesse dia não conseguiu pensar em mais nada. Nesse dia nem o remedinho ajudou a dormir, mas terminou adormecendo. A partir desse dia só usou o elevador dos fundos.


2008-09-18 10:18:40

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